quinta-feira, 20 de março de 2014

RESENHA DE TEXTO: “Memória e pedagogia no maravilhoso mundo da Disney”, de Giroux (1995)



Yêda Maria de Sousa Carvalho - Graduanda em Pedagogia/UEPB
Monitora de Extensão-PROEX/UEPB
Cursista do Componente de Aprofundamento Introdução Aos Estudos Culturais em Educação/Curso de Pedagogia-UEPB

 
GIROUX, Henry. Memória e pedagogia no maravilhoso mundo da Disney. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis: Vozes, 1995. (p. 132-158)

Ao falar de “Memória e Pedagogia no Maravilhoso Mundo da Disney”, o autor discute os contornos ideológicos da pedagogia no seu sentido crítico,  quem tem o controle para a produção de conhecimento, e também a relação entre memória e história, refletindo sobre a necessidade de uma política cultural que questione a relação entre conhecimento e autoridade no contorno de uma cultura popular que está evidente como um lugar, onde as lutas relacionada à memória da identidade e da representação estão sendo discutidas e questionadas numa tentativa de grupos dominantes em assegurar a hegemonia cultural. Dentro desse contexto revela que as práticas culturais são produzidas e reproduzidas em inúmeros locais sociais e se manifestam na construção de identidades corporais, colocando limites a gama de possibilidades das quais os indivíduos negociam suas próprias identidades.

Na sua concepção não existe definição genérica para pedagogia, ela torna-se sinônimo de ensino, visto como uma técnica ou como a prática de uma habilidade artesanal, e no seu sentido critico, ilumina a relação entre conhecimento, autoridade e poder.

No dizer do autor, “[...] uma política cultural também deve lidar, criticamente, com aqueles discursos que estão fora dos domínios tradicionais do conhecimento, para ampliar a definição histórica e relacional de textos culturais” (p.136). Revela a necessidade de uma análise do papel da mídia, onde estão sendo produzidas esferas públicas massivas, que são consideradas como “inocentes” para merecer uma análise política. “A Disney e a Política da Inocência”, que é incansável em seus esforços para promover a imagem feliz, bondosa e paternal de seu fundador, Walt Disney, e um infinito conjunto de mercadorias que evocam uma visão nostálgica dos Estados Unidos como o país da magia. “Quando a política se veste com o manto da inocência, existe algo mais em jogo que a simples mentira” (p.137).

É possível ver no texto que por trás da aparência de inocência e de seu apelo a um estado infantil, no qual esquecer o passado se torna mais importante que interagir com ele, a função controladora da memória que anula suas possibilidades emancipatórias. É importante observar que, embora a ideologia da Disney tenha sido amplamente analisada, através de críticas á seus parques e revistas em quadrinhos, essas análises não têm focalizado os filmes da Disney ou a relevância da crítica pedagógica para analisar os textos como narrativas ideológicas.

“A guerra do riso e do esquecimento”, por exemplo, é retratado no texto como o legado da amnésia histórica durante os anos 80, pois foi nessa década que os Estados Unidos precisaram se reafirmar como o líder da “nova ordem mundial”.

“As mulheres de Classe Operária e a Família no Mundo da Disney” também é destacado no texto como o símbolo da generalização e da unificação ideológica através do qual a Disney define sua visão do capitalismo, do gênero e da identidade nacional como sendo a família. O esforço da Disney para estruturar questões de gênero e classe em torno dos valores da família é especialmente evidente em um de seus filmes financeiramente mais lucrativos, “Uma Linda Mulher” (1990).

“As Pedagogias do Poder e o Imperativo da Pedagogia” são temas abordados pela Disney em seus filmes: Bom Dia, Vietnã e Uma Linda Mulher, onde apresentam textos culturais exemplares porque oferecem o potencial para uma leitura crítica de como a política da inocência funciona para esconder os princípios ideológicos usados para legitimar uma concepção racista de imperialismo global, um senso nostálgico da história e uma afirmação dos valores da família.

Desde o titulo presume-se que o autor fará críticas sobre a indústria da Disney, o que não foi errado, sua visão em relação aos produtos americanos é de negação, pois somos de uma cultura de imagens, absorvemos com mais facilidades essas imagens, nesse sentido a cultura americana nos é imposta de uma maneira muito filtrada, com versões que tentam falsear uma ideologia, pois, por trás da Disney há uma fachada promocional tentando esconder uma técnica mercadológica agressiva, educando as pessoas a serem consumidores de seus produtos. Segundo Giroux um verdadeiro símbolo generalizado de unificação ideológica. “A Disney não ignora a história; ela reinventa como um instrumento pedagógico e político para assegurar seus próprios interesses e sua autoridade e poder” (137).

Como escrever a história a partir de reinvenção, onde ficará o passado, como ele pode contribuir para a escrita? A visão do autor sobre essa face da história é clara e revela a sua posição em relação à indústria corporal. Educação, ou seja, uma pedagogia critica seria a melhor forma de acabar com a essa hibridização cultural porque não há pedagogia sem memória. “O passado é lembrado, compreendido e ligado ao presente” (Simon, apud Giroux, 1995).