sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

TEMPOS MODERNOS E A SUA RELAÇÃO COM O TRABALHO E A EDUCAÇÃO ESCOLAR

 Helenize Carlos de Macêdo
Graduanda em Geografia/UEPB
Monitora de Metodologia da Pesquisa com Filmes e  Desenhos Animados

O filme Tempos Modernos se passa nos anos 30, após a crise de 1929, e mostra a vida nos Estados Unidos nesse período. O desemprego, a fome, a industrialização estão presentes em todo o filme. Tempos Modernos conta à história de um operário, Carlitos, trabalhador de uma fábrica (aperta parafusos em uma esteira), e mostra o trabalho em linha de montagem e a especialização dos trabalhadores. Podemos perceber que Carlitos não conhece todo o processo de montagem, mas conhece a sua função específica que é apertar parafusos de forma rápida e precisa. Em determinado momento, ele fica louco de tanto apertar parafusos e sai apertando os botões da roupa de uma senhora na rua. Em outro momento, é preso por entrar em um protesto de forma acidental. Através das cenas percebemos as desigualdades sociais e a exploração dos trabalhadores nos anos 30 pós-depressão. O filme faz uma crítica de forma bem-humorada ao sistema capitalista.

Analisar a relação deste filme com o trabalho é bastante importante para entendermos a organização mais comum em todos os trabalhos atualmente, inclusive na educação. Podemos visualizar a especialização no trabalho, algo bastante perceptível, pois em todos os trabalhos temos a especialização das profissões, como por exemplo, o administrador, o vendedor, o professor, dentre outros. O que há de comum é que todos desempenham funções específicas. As linhas de montagem também estão presentes atualmente na divisão das atividades em uma fábrica, a fim de que os trabalhadores não conheçam todo o processo de produção. Além disso, a substituição da mão-de-obra por máquinas é bastante presente nos dias atuais, no qual são dispensados trabalhadores em troca de uma máquina que faz o trabalho de milhares de pessoas.

O filme, mesmo realizado em um período diferente do que vivemos hoje, se mostra bastante atual, pois todas as nossas relações de trabalho se baseiam nesse modelo, até mesmo em casa, no trabalho doméstico, podemos perceber essa divisão de tarefas. Na educação não é diferente, temos o professor, o pedagogo, o psicólogo, o diretor, o zelador, o coordenador e outros, ou seja, diferentes profissões com funções específicas em busca de um único fim: a produção de pessoal qualificado para atuar no mercado. Portanto, esse filme pode ser utilizado nas aulas como forma de mostrar as relações existentes nas diferentes formas de trabalho, fazendo uma análise do modo de produção capitalista, a industrialização, a revolução industrial, a crise de 1929, todos esses fatos históricos podem ser explorados a partir desse filme e utilizados como ferramenta didática e interativa.




Referência do filme:


TEMPOS MODERNOS. (Modern Times, EUA 1936, DIREÇÃO: Charles Chaplin, 87 min. preto e branco, Continental).

FILME CONRACK E SUA RELAÇÃO COM O MULTICULTURALISMO

 Helenize Carlos de Macêdo
Graduanda em Geografia/UEPB
Monitora de Metodologia da Pesquisa com Filmes e  Desenhos Animados

      O filme Conrack (1974), de Martin Ritt, mostra a atuação de um professor branco em uma comunidade de pessoas negras, no Estado da Carolina do Sul nos Estados Unidos. A trama envolve os protagonistas principais: professor (Pat Conroy), a diretora da escola (Sra. Scott) e o superintendente (Sr. Skeffington). O professor Pat Conroy é enviado para uma ilha no Estado da Carolina do Sul para ensinar crianças afro-descendentes entre 8 e 14 anos. Quando começa as suas atividades percebe que estas não sabem ler, escrever e não conhecem a cultura americana. A partir das necessidades dos alunos, o professor começa a ensinar relacionado os conteúdos à realidade dos mesmos, mas os conteúdos ensinados partem do referencial cultural dominante. 
Percebemos nesse filme algumas concepções de multiculturalismo, como o assimilacionista, na qual a cultura externa é acolhida pela cultura dominante. O assimilacionismo se apresenta quando o professor branco ensina aos alunos afro-descendentes a partir dos referenciais da cultura branca, como por exemplo, quem foi Picasso e Beethoven, os nomes de todos os presidentes norte-americanos, as tradições, as festividades que remontam ao período de colonização (Dia das bruxas), dentre outros. As crianças passam a incorporar essa cultura dominante e a usá-la no seu dia a dia. 
Percebemos também o multiculturalismo particuralista no qual a identidade cultural é definida a partir dos genes. Esse tipo de multiculturalismo é visto no filme através das políticas adotadas pelas autoridades com relação à escola, como no exemplo em que Conroy quer levar as crianças para a cidade e conhecer a festividade do Dia das Bruxas e o superintendente Sr. Skeffington, se recusa a aceitar que as crianças saiam da ilha. Podemos perceber também o endosso a essa atitude preconceituosa pelos habitantes da cidade em relação as crianças afro-descendentes da ilha.
A atuação do professor foi bastante importante para as crianças, pois ensinava com o objetivo de incluí-las em uma cultura diferente da sua. Apesar das crianças estarem no mesmo país que o professor Conroy, não conheciam a chamada cultura dominante. É através do assimilacionismo que passaram a conhecer. 
            Esse filme se passa no contexto das políticas educacionais multiculturalistas no início dos anos 70 nos Estados Unidos, mostrando as diferenças entre as culturas e a subtração da cultura do outro. Por este motivo, é bastante importante a sua análise para percebermos as relações interculturais e estabelecer o respeito entre as culturas.

REFERÊNCIA

CONRACK. Produzido por Harriet Frank Jr, Richard Kobritz, Martin Ritt. EUA: Twentieth Century-Fox Film Corporation / Fox Video, 1974. 106min.

FILME “A MISSÃO” E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO

 Helenize Carlos de Macêdo
Graduanda em Geografia/UEPB
Monitora de Metodologia da Pesquisa com Filmes e  Desenhos Animados

O filme A Missão retrata o período colonial no Brasil, mais precisamente o século XVIII, mostrando as investidas dos colonizadores para a conquista da nova terra. Os principais protagonistas no filme são padres jesuítas que recebem a incumbência de trazer “educação” para os nativos ou indígenas. Os nativos eram percebidos pelos colonizadores como “animais incivilizados”, sendo necessário receber educação, já que a sua educação não era valorizada. A educação nas sociedades nativas tinha características bastante diferentes da educação dos europeus. Basicamente, era uma educação familiar passada de geração a geração, respeitando sempre os mais velhos que detinham maior conhecimento na tribo. Enquanto que a educação dos europeus era uma educação erudita que valorizava a literatura, o latim, a religião cristã, ou seja, modos de educação, de culturas muito diferentes. Tais diferenças originaram choques culturais. O colonizador não compreende o modo de vida dos nativos e por isso crer que está fazendo algo de bom impondo a sua forma de educação.

O início do filme mostra os índios em um ritual de sepultamento, colocando um padre que estava morto em uma cruz e lançando ao rio. Esse fato, de certa forma, causa estranheza ao padre jesuíta Gabriel que estava chegando à tribo, pois, para ele, os indígenas tinham sacrificado o padre. Eles não compreendiam que na religião dos nativos não se enterra o corpo como na religião cristã. O padre Gabriel encarregado de prover a educação na tribo chega à cachoeira e encontra alguns índios e através da flauta que tocava conseguiu chamar a atenção dos mesmos e chegar até a tribo onde eles viviam a partir desse momento o padre começa sua missão na aldeia. Esse momento em que o padre chega à tribo é muito conturbado, pois, há conflito entre os nativos e os colonizadores, estes últimos escravizavam, exterminavam os índios em um conflito constante. Um exemplo disso é recém convertido jesuíta Rodrigo, que fazia parte das investidas de colonização como caçador de índios, mas se converteu à religião cristã e passou a fazer parte da missão jesuítica juntamente com o padre Gabriel.

O filme de certa forma mostra os jesuítas como “salvadores”, verdadeiros heróis que estavam protegendo os nativos, isso fica muito evidente no momento em que os colonizadores querem acabar com as missões jesuíticas no Brasil e a Igreja aprova. Os jesuítas permanecem até o fim lutando com os indígenas, ajudando a combater os colonos. Mas, o que é mais interessante para nossa análise nesse filme é a sua relação com a história da educação colonial brasileira. Percebemos que a educação foi bastante importante nesse processo de colonização, pois através dela os índios aprenderam a língua portuguesa, os costumes, a se relacionar com os colonos, ou seja, a cultura do colonizador. Tal aprendizagem facilitou as relações entre colonizador e colonizado e tornou possível a investida dos europeus no Brasil. Os jesuítas através do seu modo de educação, centrado no professor, “sem” relação professor-aluno, ensino baseado na cultura da elite, culta, na religião cristã, conseguiram cumprir seu objetivo. Outro fato interessante é que essa educação mais fina, culta era destinada aos filhos dos colonos (os administradores), enquanto que para os nativos a educação era diferenciada, mais básica. O que podemos perceber é que esse modelo dualista de educação ainda é bastante presente nas escolas atuais, o que mostra resquícios do período colonial.


Referência do filme:


A MISSÃO. Direção: Roland Joffé. Produção: Fernando Ghia e David Puttnam. Brasil Films International, 1986, 1 DVD.

domingo, 25 de dezembro de 2011

MULAN (Parte 2): DISCUTINDO AS QUESTÕES DE GÊNERO A PARTIR DO FILME MULAN




Por Danielle Pontes

Durante décadas, a Disney vem conquistando o público através de seus filmes e desenhos, garantindo não só entretenimento, mas também veiculação da concepção de gênero e de símbolos sobre o feminino. Um grande exemplo desta abordagem é o filme Mulan. A personagem central, Fa Mulan é representada como uma típica adolescente que ainda está descobrindo suas vontades e seus limites, passando por conflitos internos e externos. Uma grande pressão sobre a jovem é o casamento. O dever de preservar a honra da família através do casamento não obteve sucesso, causando muita tristeza para si e para sua família, pois seria inadmissível a filha única não casar-se. Não conseguindo honrar a família pelo casamento, honra pela presença em batalha. Fa Mulan toma a atitude drástica de vestir-se de homem, adotar atributos masculinos e ir para a guerra. Outro conflito que a Fa Mulan enfrentava era os valores que a sua sociedade atribuía às mulheres. Ela não assimilava bem valores como: ser delicada, ser obediente, ser uma boa esposa e ter muitos filhos. Podemos ver isto quando Fa Mulan visita a casamenteira do vilarejo e anota no seu braço valores atribuídos ao feminino, acredito por estes não fazerem parte de sua personalidade.
 
Fa Mulan chega ao treinamento no acampamento militar adotando atributos ditos masculinos com a ajuda do dragão Mushu. São considerados atributos masculinos: arrotar, ser rude, agressivo, cuspir. Como em sua sociedade é intolerável uma mulher comportar-se dessa forma, ela concorda em imitar os homens a fim de atingir os seus objetivos: alistar-se para a guerra em nome de sua família. Ser um soldado foi a única à maneira de Fa Mulan não ser descoberta e trazer a tão desejada honra para a família. Guerrear já que não conquistou um marido e honrou a família através do casamento. Fa Mulan, ao armar estratégias para derrotar os hunos, mostra a sua esperteza e desenvoltura ao lidar com os obstáculos, e não pela força, característica essa predominantemente masculina. Então,  torna-se heroína e volta a ter a sua importância reconhecida, como mulher não precisando se casar para ter essa honra, pois o seu casamento com o então general Shang foi um fato natural, de amor, não uma obrigação como sua família e a sociedade da qual fazia parte. O casamento é representado como um ato voluntário, tornando-a uma mulher livre sem imposições. 
  
Na atualidade, as mulheres buscam serem sujeitos de sua própria história querem estudar, trabalhar e com isso conquistar sua independência, mas também querem casar, porém não querem ser apenas aquela mulher onde o seu dever é dar suporte ao sucesso de seu marido e com isso ser submissa a ele, colocando sua vida em segundo plano, fazendo dela o sexo “frágil” na qual deve haver limites e imposições para ela. O filme Mulan mostra um pouco da mulher contemporânea que luta, rompe com as normas da sociedade, a fim de acabar com o preconceito e a desvalorização da mulher.