Sayonara Ramos
Marcelino Ferreira Quirino
Graduanda em
Pedagogia/UEPB
Monitora de
Extensão- PROEX/UEPB
Membro do Grupo
de Pesquisa “Educação, Infância e Cultura Visual”/UEPB-CNPq
Ao
longo do seu desenvolvimento é proporcionado as pessoas, desde pequenas, um
processo de socialização repleto de orientações normatizadoras acerca do
gênero. Nesta perspectiva, o gênero é um processo sócio-cultural que varia
bastante, pois depende da época, da cultura, do país. Sendo assim, a
feminilidade e a masculinidade são conceitos que vão além da biologia e remetem
a redes de sentido que abarcam inúmeras dimensões da vida das pessoas.
Gênero não é uma categoria homogênea,
nem uma categoria exclusiva. Não é um termo usado só para falar das mulheres,
nem só dos homens. O estudo das relações de gênero não se concentra nos
conflitos entre mulheres e homens em termos individuais ainda que se possa
levá-los em consideração. Farr e Chitiga afirmam que “Trocar um papel de gênero
de um para outro sexo, não significa, por si só, um sinal de conscientização de
gênero” (Farr e Chitiga, 1991, p.25). O que observamos é que, mesmo quando
homens exercem funções ditas femininas e quando mulheres exercem funções tipicamente
masculinas, o preconceito ainda se faz presente, ouve-se críticas, porque ainda
não há de fato uma conscientização do gênero.
No filme “Caçadores de Dragões” a
questão do gênero é forte, de um lado temos o protagonista Lian-chu, que é
forte, musculoso, corajoso, mas faz tricô, uma prática feminina, e que por
fazê-lo é alvo de preconceito de seu amigo Guisdô e da princesa Zoé. Para
Lian-chu, no entanto, o tricô tem uma simbologia distinta, representa a sua mãe
querida. Porém pra seus amigos Guisdô e Zoé gostar de tricô “é coisa de
mulherzinha”. De outro lado, temos a princesa Zoé que sonha em ser uma caçadora
de dragões, uma atividade masculina, e, é claro, seus amigos Lian-chu, Guisdô e
seu tio Lord Arnold, não aceitam que ela seja uma caçadora, pois ser caçador “é
coisa de homem”. Outro detalhe interessante sobre a princesa Zoé, é que a mesma
foge dos padrões de beleza das clássicas princesas.
Não
existe uma determinação natural dos comportamentos de homens e mulheres, apesar
das inúmeras regras sociais calcadas numa suposta determinação biológica
diferencial dos sexos, usadas nos exemplos mais corriqueiros como “mulher não
pode trocar pneu” ou “homem não pode lavar roupa”, ou no caso do filme
emquestão, “homem não pode fazer tricô e mulher não ode ser uma caçadora de
dragões”. Essas atitudes e conceitos são determinados e impostos para todos,
crescemos ouvindo esses tipos de comentários, consequentemente esses conceitos
são por nós internalizados e tidos como corretos. Essas interações ocorrem, particularmente,
no âmbito da convivência familiar. Através de jogos, brincadeiras, relações
interpessoais, que aprendemos o que a mulher pode fazer e o que o homem pode
fazer.
Mulheres e homens, que vivem
feminilidades e masculinidades de formas diversas das hegemônicas e que,
portanto, muitas vezes não são representados/as como “verdadeiras/verdadeiros”
mulheres e homens, fazem críticas a esta estrita e estreita concepção binária
(LOURO, 1997, p. 34).
Os
papéis destinados ao homem e a mulher, em nossa sociedade, e em muitas outras,
são bem diferentes. Fomos criados e educados de forma, a saber, nos comportar
como homens e mulheres. A educação para o homem é bem distinta da educação para
a mulher. O homem é livre, e para ele tudo é permitido. Este é agressivo,
dominador, violento, machão. Não têm medos, gosta de correr riscos; É o
provedor, sustenta a família, trabalha. Já a mulher é reservada, submissa,
frágil, dona-de-casa, mãe, esposa. A mulher não deve se comportar como um
homem, quando assume tal comportamento ela é desprezada pela sociedade e
criticada pelas próprias mulheres. O homem veste azul, joga bola, brinca de
carro. A mulher veste rosa, brinca de casinha e de boneca. É claro que a
realidade já não é mais assim, mas esses (pré)conceitos ainda estão bem fortes
e enraizados na nossa sociedade.
Ao aceitarmos que a construção de
gênero é histórica e se faz incessantemente, estamos entendendo que as relações
entre homens e mulheres, os discursos e as representações dessas relações estão
em constante mudança. Isso supõe que as identidades de gênero estão
continuamente se transformando (LOURO, 1997, p. 35).
Nossa
sociedade acredita que a mulher não deve ocupar os lugares dos homens seja no
trabalho, seja em algumas atividades do cotidiano. Esse discurso é antigo e
está formado na mente da maioria das pessoas. Mas, no filme, percebemos essas
mudanças, os discursos estão se transformando, a personagem Lian-chu não deixa
de fazer seu tricô, apesar das críticas. Ele não acha nada de errado em gostar
e fazer tricô. E a princesa Zoé, também, pois a mesma não deixa de realizar seu
sonho e consegue ser uma caçadora de dragões, mostrando que os papéis podem ser
invertidos e que não há problema nisso.
O
preconceito está na nossa mente e nas ideologias prontas que são apresentadas a
nós. A questão do gênero está em discussão, à conscientização ocorre de forma
lenta, ainda estamos longe da igualdade entre homens e mulheres. O
(pre)conceito, o machismo, ainda é forte na nossa sociedade, ainda se faz
presente na nossa cultura. Cabe, então, a nós, homens e mulheres, escolhermos
entre viver bem e feliz, fazendo o que gostamos, ou vivermos de aparência,
agradando aos demais, reproduzindo o preconceito e sendo infelizes.
REFERÊNCIAS
CAÇADORES DE DRAGÕES.
Direção: Guillaume Ivernel, Arthur Qwak. Produção: Philippe Delarue, Tilo Seiffert. Roteiro:
Frédéric Lenoir, Arthur Qwak. Gênero:
Desenho animado. Origem: França. Ano:
2008. Duração: 82 minutos
FARR, Ellen; CHITIGA, Rudo. Hallo – Is Gender There? A study of gender. Awareness
in the MS Programme in Zimbabwe: Mach, 1991.
LOURO, Guacira L. Gênero, Sexualidade e Educação: Uma perspectica pós-estruturalista.
Petrópolis/RJ: Vozes, 1997.