domingo, 25 de maio de 2014

A QUESTÃO DO GÊNERO NO FILME “CAÇADORES DE DRAGÕES”



Sayonara Ramos Marcelino Ferreira Quirino
Graduanda em Pedagogia/UEPB
Monitora de Extensão- PROEX/UEPB
Membro do Grupo de Pesquisa “Educação, Infância e Cultura Visual”/UEPB-CNPq


Ao longo do seu desenvolvimento é proporcionado as pessoas, desde pequenas, um processo de socialização repleto de orientações normatizadoras acerca do gênero. Nesta perspectiva, o gênero é um processo sócio-cultural que varia bastante, pois depende da época, da cultura, do país. Sendo assim, a feminilidade e a masculinidade são conceitos que vão além da biologia e remetem a redes de sentido que abarcam inúmeras dimensões da vida das pessoas.

Gênero não é uma categoria homogênea, nem uma categoria exclusiva. Não é um termo usado só para falar das mulheres, nem só dos homens. O estudo das relações de gênero não se concentra nos conflitos entre mulheres e homens em termos individuais ainda que se possa levá-los em consideração. Farr e Chitiga afirmam que “Trocar um papel de gênero de um para outro sexo, não significa, por si só, um sinal de conscientização de gênero” (Farr e Chitiga, 1991, p.25). O que observamos é que, mesmo quando homens exercem funções ditas femininas e quando mulheres exercem funções tipicamente masculinas, o preconceito ainda se faz presente, ouve-se críticas, porque ainda não há de fato uma conscientização do gênero.

No filme “Caçadores de Dragões” a questão do gênero é forte, de um lado temos o protagonista Lian-chu, que é forte, musculoso, corajoso, mas faz tricô, uma prática feminina, e que por fazê-lo é alvo de preconceito de seu amigo Guisdô e da princesa Zoé. Para Lian-chu, no entanto, o tricô tem uma simbologia distinta, representa a sua mãe querida. Porém pra seus amigos Guisdô e Zoé gostar de tricô “é coisa de mulherzinha”. De outro lado, temos a princesa Zoé que sonha em ser uma caçadora de dragões, uma atividade masculina, e, é claro, seus amigos Lian-chu, Guisdô e seu tio Lord Arnold, não aceitam que ela seja uma caçadora, pois ser caçador “é coisa de homem”. Outro detalhe interessante sobre a princesa Zoé, é que a mesma foge dos padrões de beleza das clássicas princesas.

Não existe uma determinação natural dos comportamentos de homens e mulheres, apesar das inúmeras regras sociais calcadas numa suposta determinação biológica diferencial dos sexos, usadas nos exemplos mais corriqueiros como “mulher não pode trocar pneu” ou “homem não pode lavar roupa”, ou no caso do filme emquestão, “homem não pode fazer tricô e mulher não ode ser uma caçadora de dragões”. Essas atitudes e conceitos são determinados e impostos para todos, crescemos ouvindo esses tipos de comentários, consequentemente esses conceitos são por nós internalizados e tidos como corretos. Essas interações ocorrem, particularmente, no âmbito da convivência familiar. Através de jogos, brincadeiras, relações interpessoais, que aprendemos o que a mulher pode fazer e o que o homem pode fazer.

Mulheres e homens, que vivem feminilidades e masculinidades de formas diversas das hegemônicas e que, portanto, muitas vezes não são representados/as como “verdadeiras/verdadeiros” mulheres e homens, fazem críticas a esta estrita e estreita concepção binária (LOURO, 1997, p. 34).


Os papéis destinados ao homem e a mulher, em nossa sociedade, e em muitas outras, são bem diferentes. Fomos criados e educados de forma, a saber, nos comportar como homens e mulheres. A educação para o homem é bem distinta da educação para a mulher. O homem é livre, e para ele tudo é permitido. Este é agressivo, dominador, violento, machão. Não têm medos, gosta de correr riscos; É o provedor, sustenta a família, trabalha. Já a mulher é reservada, submissa, frágil, dona-de-casa, mãe, esposa. A mulher não deve se comportar como um homem, quando assume tal comportamento ela é desprezada pela sociedade e criticada pelas próprias mulheres. O homem veste azul, joga bola, brinca de carro. A mulher veste rosa, brinca de casinha e de boneca. É claro que a realidade já não é mais assim, mas esses (pré)conceitos ainda estão bem fortes e enraizados na nossa sociedade.

Ao aceitarmos que a construção de gênero é histórica e se faz incessantemente, estamos entendendo que as relações entre homens e mulheres, os discursos e as representações dessas relações estão em constante mudança. Isso supõe que as identidades de gênero estão continuamente se transformando (LOURO, 1997, p. 35).

Nossa sociedade acredita que a mulher não deve ocupar os lugares dos homens seja no trabalho, seja em algumas atividades do cotidiano. Esse discurso é antigo e está formado na mente da maioria das pessoas. Mas, no filme, percebemos essas mudanças, os discursos estão se transformando, a personagem Lian-chu não deixa de fazer seu tricô, apesar das críticas. Ele não acha nada de errado em gostar e fazer tricô. E a princesa Zoé, também, pois a mesma não deixa de realizar seu sonho e consegue ser uma caçadora de dragões, mostrando que os papéis podem ser invertidos e que não há problema nisso.

O preconceito está na nossa mente e nas ideologias prontas que são apresentadas a nós. A questão do gênero está em discussão, à conscientização ocorre de forma lenta, ainda estamos longe da igualdade entre homens e mulheres. O (pre)conceito, o machismo, ainda é forte na nossa sociedade, ainda se faz presente na nossa cultura. Cabe, então, a nós, homens e mulheres, escolhermos entre viver bem e feliz, fazendo o que gostamos, ou vivermos de aparência, agradando aos demais, reproduzindo o preconceito e sendo infelizes.

REFERÊNCIAS

CAÇADORES DE DRAGÕES. Direção: Guillaume Ivernel, Arthur Qwak. Produção: Philippe Delarue, Tilo Seiffert. Roteiro: Frédéric Lenoir, Arthur Qwak. Gênero: Desenho animado. Origem: França. Ano: 2008. Duração: 82 minutos

FARR, Ellen; CHITIGA, Rudo. Hallo – Is Gender There? A study of gender. Awareness in the MS Programme in Zimbabwe: Mach, 1991.

LOURO, Guacira L. Gênero, Sexualidade e Educação: Uma perspectica pós-estruturalista. Petrópolis/RJ: Vozes, 1997.

sábado, 24 de maio de 2014

I Ciclo de Palestras sobre Cinema e História da Educação

PALESTRAS REALIZADAS


Palestra 1: O Modelo Taylorista-fordista e a Massificação da Escola Moderna: Uma Análise a Partir de "Tempos Modernos", de Chaplin
Ministrante: Profa. Senyra Martins Cavalcanti (DE/UEPB)
Data: 08/05/2014 (5a.feira)
Horário: 18:30
Local: Auditório II da CIA

Palestra 2: Nas Tramas do Feminino: Tecendo Leituras Educacionais em "Orgulho e Preconceito"
Ministrante: Profa. Patrícia Cristina de Aragão Araújo (DH/UEPB)
Data: 15/05/2014 (5a.feira)
Horário: 8:30
Local: Auditório I da CIA/UEPB

Palestra 3: Sociedade Multiétnica, Juventude e Escola em “Entre os Muros da Escola”
Ministrante: Profa. Senyra Martins Cavalcanti (DH/UEPB)
Data: 15/05/2014 (5a.feira)
Horário: 18:30
Local: Auditório II da CIA/UEPB

Palestra 4: O conflito existencial entre o amor sagrado e o profano: a agonia moral e a renovação ética e religiosa em "Em Nome de Deus"
Ministrante: Profa. Maria Lindací Gomes de Souza (DH/UEPB)
Data: 22/05/2014 (5a.feira)
Horário: 8:30
Local: Auditório I da CIA/UEPB

Palestra 5: O Vigiar e o Punir na Sétima Arte: representações do internato escolar no cinema
Ministrante: Prof. Ramsés Nunes e Silva (DH/UEPB)
Data: 09/06/2014 (2a.feira)
Horário: 18:30
Local: Auditório I da CIA/UEPB


Palestra 6: Linguagem, surdez e cognição em "O Milagre de Anne Sullivan".
Ministrante: Prof. Eduardo Gomes Onofre (DE/UEPB)
Data: 11/06/2014 (4a.feira)
Horário: 18:30
Local: Auditório I da CIA/UEPB


Palestra 7: Vozes Femininas em "Histórias Cruzadas": Educação 
Intercultural, Negritude e Direitos Humanos
Ministrante: Profa. Patrícia Cristina de Aragão Araújo (DH/UEPB)
Data: 03/07/2014 (5a.feira)
Horário: 18:30
Local: Auditório da CIA da CIA/UEPB


Palestra 08: A ressignificação do espaço e das relações escolares a luz do filme "Nenhum a menos": um olhar oriental
Ministrante: Profa. Ofélia Maria Barros (DH/UEPB)
Data: 09/07/2014 (4a.feira)
Horário: 18:30
Local: Auditório I da CIA/UEPB

Palestra 09: Sociedade, afetividade e finitude da vida: um olhar sobre a velhice em "O Amor"
Ministrante: Profa. Zélia Maria de Arruda Santiago (DE/UEPB) e Profa. Silvana Eloisa da Silva Ribeiro (UAEd/UFCG).
Data: 10/07/2014 (5a.feira)
Horário: 18:30
Local: Auditório I da CIA/UEPB

 
Palestra 10: Educação popular e tradições orais em "Narradores de Javé"
Ministrante: Profa. Elizabeth Carlos do Vale (DE/UEPB)
Data: 15/07/2014 (3a.feira)
Horário: 18:30
Local: Auditório I da CIA/UEPB

Palestra 11: Educação e barbárie em "A Lista de Schindler"
Ministrante: Prof. João Damasceno (DG/UEPB)
Data: 16/07/2014 (4a.feira)
Horário: 8:30 *
Local: Auditório I da CIA/UEPB