quinta-feira, 20 de março de 2014

O poder das imagens na pós-modernidade



Maiara de Souza – Graduanda em Pedagogia/UEPB
Monitora de Extensão-PROEX/UEPB
Membro do Grupo de Pesquisa “Educação, Infância e Cultrua Visual”/UEPB-CNPq
Cursista do Componente de Aprofundamento Introdução aos Estudos Culturais em Educação/Curso de Pedagogia-UEPB
Professora do Ensino Fundamental


KELLNER, Douglas. Lendo imagens criticamente: em direção a uma pedagogia pós-moderna. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis: Vozes, 1995. (p. 104-131)

Chama de imediato a atenção no texto do Kellner o quanto na sociedade pós-moderna há uma expansão do conceito de cultura, intensificando a ruptura entre a “alta” e a “baixa” cultura, dando espaço para novas práticas culturais presentes em filmes, romances populares e principalmente nas imagens. O autor aprofunda sua análise às implicações destas práticas culturais, dando ênfase à necessidade de adoção de uma pedagogia crítica atenta às posições modernas e pós-modernas.

Kellner argumenta que houve uma mudança social, a transição da sociedade metalúrgica para a semiurgia, caracterizada por simulacros, signos, destacando ser a era do entretenimento centrado numa cultura de imagem, marcando o declínio do pensamento linear, onde a televisão é interpretada como a máquina de imagens. Contesta que a educação deve prestar atenção à nova cultura de imagens, desenvolver uma pedagogia crítica preocupada na leitura, analise e interpretação de imagens, objetivando o entendimento de como nossa experiência e nossos eus são socialmente construídos, sobredeterminados e influenciados por uma gama variada de imagens, discursos e códigos.

Historiando a evolução dos anúncios, o autor destaca que na década de 1980 cresce o uso de fotografias e ilustrações, em forma de slogans, jingles, levando a imagem substituir a racionalidade discursiva, tornando a publicidade um dos principais setores da indústria cultural, com discurso público dominante de estilos de vida, consumo, valores e papéis de gênero. Está na base deste convencimento a “[...] publicidade como uma pedagogia que ensina os indivíduos o que eles precisam e devem desejar, pensar e fazer para serem felizes, bem-sucedidos” (p.112). Os apologistas da indústria da publicidade argumentam como ela é avassaladora, persuasiva e simbólica, contribuinte com os imperativos do capitalismo de consumo. 

Ao tratar da análise dos anúncios de cigarro dos anos 80, do Marlboro e do Virginia Slims, é apresentado como os mesmos formam sistemas textuais que posiciona positivamente o produto, manipulando o consumo. O anúncio do Marlboro se aproveita de imagens tradicionais do homem, ou melhor, do cowboy como símbolo de masculinidade, que cuidada de animais, trabalha duro, assimilado o ato de fumar com uma atividade nobre, positiva, de bem-estar. Já o sistema textual do Virginia Slim, em 1983 e 1988, contém imagens narrativas do esperado para a mulher progressista, moderna (esbelta, simpática, mais masculina, sexual, ameaçadora, fumante etc.), ambas, características socialmente desejáveis na época, que levam os sujeitos a se identificarem e comprarem o produto. Os anúncios sempre se adéquam as mudanças sociais como estratégia para acompanhar os desejos dos indivíduos e depois conseguir manipulá-los, usufruindo o poder das imagens, venderem posições de sujeitos.

Ao tratar do alfabetismo crítico, Kellner contesta que na pós-modernidade os artefatos da indústria cultural tem assumido um poder cultural enorme, produzindo a comercialização da cultura e declinando a individualidade. Portanto, um alfabetismo crítico proporcionaria a aprendizagem de uma leitura crítica da cultura popular e da mídia, desenvolvendo habilidades de compreensão, avaliação e discussão, da opressão e dominação presente na cultura do consumo. Contribuindo ainda, para a capacitação e poder dos indivíduos resistirem a certas imposições, papéis, modelos de gênero e comportamentos ditados na cultura do consumo.

Após exemplificações do poder da publicidade, Kellner entra na última parte do texto, em que afirma que a linguagem crítica pode ser vinculada á uma linguagem de luta e mudança, necessitando assim, que se eduque os estudantes para se tornarem cidadãos ativos, participantes da produção e da mudança na sociedade, dando a pedagogia crítica um papel crucial neste processo de formação de posições políticas na pós-modernidade.

É muitíssimo agradável e plausível como Kellner organizou o texto, chamando atenção desde o início para as mudanças culturais ocasionas na sociedade moderna e pós-moderna, atribuindo as imagens uma atenção e análise especial, já que “[...] encontramo-nos imersos num oceano de imagens” (p. 108), é necessário uma leitura crítica, interpretativa e reflexiva, sobre as mesmas.

O texto traz conceitos, citações de teóricos renomados e cumprindo com seu objetivo de apresentar a pedagogia crítica como uma das teorias para se entender algumas práticas culturais modernas e pós-modernas. No entanto, o desenvolvimento de um alfabetismo crítico em relação à mídia e a leitura crítica de imagens é um dos pontos mais enfatizados por Kellner, destacando a necessidade de ampliar o alfabetismo e competências cognitivas dos indivíduos, para que assim, “[...] possamos sobreviver ao assalto das imagens, mensagens e espetáculos da mídia que inundam nossa cultura” (p. 107).   

A leitura crítica dos anúncios de cigarro do Marlboro e Virginia Slims, representaram o quanto a publicidade agi para ensinar uma visão de mundo, comportamentos aceitáveis e inaceitáveis, agindo realmente como uma pedagogia com forças de moldagem do pensamento. No entanto, os indivíduos na pós-modernidade tem tanto acesso a estas imagens (com as características socialmente desejáveis, divisão de gênero) nas ofertas de vários produtos, que realmente acabam construindo suas identidades a partir destas imagens.

As mudanças de concepções na sociedade são introduzidas rapidamente nos anúncios, e Kellner apresentou muito bem ao exemplificar as mudanças ocorridas nos slogans e nas imagens dos anúncios do cigarro, como no exemplo “Você progrediu um bocado querida!” se reportando aos métodos “modernos” como o feminismo, mostrando como deve ser a vida da mulher moderna, progressista, associando o ato de consumir com o prazer e o ser.

Portanto, imersos a tantas imagens ilusionistas, manipuladoras, o sujeito na pós-modernidade necessita estar atento, e o alfabetismo crítico é uma proposta que visa o desenvolvimento desta habilidade, disseminando as compulsões de comportamento típicas do consumidor, levando-o a conseguir resistir à manipulação do capitalismo do consumo. Este, significativamente é um meio para as escolas adotarem em busca de proporcionar aos estudantes autonomia para analisarem e interpretarem as imagens para que assim, possam discutir e resistir, a opressão e a dominação da indústria cultural.