Maiara de Souza –
Graduanda em Pedagogia/UEPB
Monitora de Extensão-PROEX/UEPB
Membro do Grupo de
Pesquisa “Educação, Infância e Cultrua Visual”/UEPB-CNPq
Cursista do Componente de Aprofundamento Introdução
aos Estudos Culturais em Educação/Curso de Pedagogia-UEPB
Professora do Ensino Fundamental
KELLNER,
Douglas. Lendo imagens criticamente: em direção a uma pedagogia pós-moderna.
In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Alienígenas
na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação.
Petrópolis: Vozes, 1995. (p. 104-131)
Chama de imediato
a atenção no texto do Kellner o quanto na sociedade pós-moderna há uma expansão
do conceito de cultura, intensificando a ruptura entre a “alta” e a “baixa”
cultura, dando espaço para novas práticas culturais presentes em filmes,
romances populares e principalmente nas imagens. O autor aprofunda sua análise
às implicações destas práticas culturais, dando ênfase à necessidade de adoção
de uma pedagogia crítica atenta às posições modernas e pós-modernas.
Kellner
argumenta que houve uma mudança social, a transição da sociedade metalúrgica
para a semiurgia, caracterizada por simulacros, signos, destacando ser a era do
entretenimento centrado numa cultura de imagem, marcando o declínio do
pensamento linear, onde a televisão é interpretada como a máquina de imagens.
Contesta que a educação deve prestar atenção à nova cultura de imagens,
desenvolver uma pedagogia crítica preocupada na leitura, analise e
interpretação de imagens, objetivando o entendimento de como nossa experiência
e nossos eus são socialmente construídos, sobredeterminados e influenciados por
uma gama variada de imagens, discursos e códigos.
Historiando a
evolução dos anúncios, o autor destaca que na década de 1980 cresce o uso de
fotografias e ilustrações, em forma de slogans, jingles, levando a imagem substituir
a racionalidade discursiva, tornando a publicidade um dos principais setores da
indústria cultural, com discurso público dominante de estilos de vida, consumo,
valores e papéis de gênero. Está na base deste convencimento a “[...] publicidade
como uma pedagogia que ensina os indivíduos o que eles precisam e devem
desejar, pensar e fazer para serem felizes, bem-sucedidos” (p.112). Os
apologistas da indústria da publicidade argumentam como ela é avassaladora,
persuasiva e simbólica, contribuinte com os imperativos do capitalismo de
consumo.
Ao tratar da
análise dos anúncios de cigarro dos anos 80, do Marlboro e do Virginia Slims, é
apresentado como os mesmos formam sistemas textuais que posiciona positivamente
o produto, manipulando o consumo. O anúncio do Marlboro se aproveita de imagens
tradicionais do homem, ou melhor, do cowboy como símbolo de masculinidade, que
cuidada de animais, trabalha duro, assimilado o ato de fumar com uma atividade
nobre, positiva, de bem-estar. Já o sistema textual do Virginia Slim, em 1983 e
1988, contém imagens narrativas do esperado para a mulher progressista, moderna
(esbelta, simpática, mais masculina, sexual, ameaçadora, fumante etc.), ambas,
características socialmente desejáveis na época, que levam os sujeitos a se
identificarem e comprarem o produto. Os anúncios sempre se adéquam as mudanças
sociais como estratégia para acompanhar os desejos dos indivíduos e depois
conseguir manipulá-los, usufruindo o poder das imagens, venderem posições de
sujeitos.
Ao tratar do
alfabetismo crítico, Kellner contesta que na pós-modernidade os artefatos da
indústria cultural tem assumido um poder cultural enorme, produzindo a
comercialização da cultura e declinando a individualidade. Portanto, um
alfabetismo crítico proporcionaria a aprendizagem de uma leitura crítica da
cultura popular e da mídia, desenvolvendo habilidades de compreensão, avaliação
e discussão, da opressão e dominação presente na cultura do consumo.
Contribuindo ainda, para a capacitação e poder dos indivíduos resistirem a
certas imposições, papéis, modelos de gênero e comportamentos ditados na
cultura do consumo.
Após
exemplificações do poder da publicidade, Kellner entra na última parte do
texto, em que afirma que a linguagem crítica pode ser vinculada á uma linguagem
de luta e mudança, necessitando assim, que se eduque os estudantes para se
tornarem cidadãos ativos, participantes da produção e da mudança na sociedade,
dando a pedagogia crítica um papel crucial neste processo de formação de
posições políticas na pós-modernidade.
É muitíssimo
agradável e plausível como Kellner organizou o texto, chamando atenção desde o
início para as mudanças culturais ocasionas na sociedade moderna e pós-moderna,
atribuindo as imagens uma atenção e análise especial, já que “[...]
encontramo-nos imersos num oceano de imagens” (p. 108), é necessário uma
leitura crítica, interpretativa e reflexiva, sobre as mesmas.
O texto traz conceitos,
citações de teóricos renomados e cumprindo com seu objetivo de apresentar a
pedagogia crítica como uma das teorias para se entender algumas práticas culturais
modernas e pós-modernas. No entanto, o desenvolvimento de um alfabetismo
crítico em relação à mídia e a leitura crítica de imagens é um dos pontos mais enfatizados
por Kellner, destacando a necessidade de ampliar o alfabetismo e competências
cognitivas dos indivíduos, para que assim, “[...] possamos sobreviver ao
assalto das imagens, mensagens e espetáculos da mídia que inundam nossa
cultura” (p. 107).
A leitura
crítica dos anúncios de cigarro do Marlboro e Virginia Slims, representaram o
quanto a publicidade agi para ensinar uma visão de mundo, comportamentos
aceitáveis e inaceitáveis, agindo realmente como uma pedagogia com forças de
moldagem do pensamento. No entanto, os indivíduos na pós-modernidade tem tanto
acesso a estas imagens (com as características socialmente desejáveis, divisão
de gênero) nas ofertas de vários produtos, que realmente acabam construindo
suas identidades a partir destas imagens.
As mudanças de
concepções na sociedade são introduzidas rapidamente nos anúncios, e Kellner
apresentou muito bem ao exemplificar as mudanças ocorridas nos slogans e nas
imagens dos anúncios do cigarro, como no exemplo “Você progrediu um bocado
querida!” se reportando aos métodos “modernos” como o feminismo, mostrando como
deve ser a vida da mulher moderna, progressista, associando o ato de consumir
com o prazer e o ser.
Portanto, imersos a tantas imagens ilusionistas,
manipuladoras, o sujeito na pós-modernidade necessita estar atento, e o
alfabetismo crítico é uma proposta que visa o desenvolvimento desta habilidade,
disseminando as compulsões de comportamento típicas do consumidor, levando-o a
conseguir resistir à manipulação do capitalismo do consumo. Este,
significativamente é um meio para as escolas adotarem em busca de proporcionar
aos estudantes autonomia para analisarem e interpretarem as imagens para que assim,
possam discutir e resistir, a opressão e a dominação da indústria cultural.