terça-feira, 8 de maio de 2012

FICHAMENTO DO TEXTO CINEMA: EXPERIÊNCIA CULTURAL E ESCOLAR DE MARCOS NAPOLITANO



Robson de Oliveira Silva
Graduando em História /UEPB
Monitor de Cinema e Ensino de História na Educação Básica
Referência

Napolitano, M. In: São Paulo (Estado) Secretaria da Educação. Caderno de cinema do professor: dois/Secretaria da Educação, Fundação para o Desenvolvimento da Educação. Devanil Tozzi, et al (Org). - São Paulo: FDE, 2009. (P. 10 a 31)

Principais ideias:

Segundo Napolitano o cinema é uma das mais fortes experiências sociais para a sociedade de massas no século XX. Essa experiência audiovisual expandiu sua abrangência social através do advento da televisão no final da década de 40, ambos os casos (Cinema e TV) eram lugar de lutas sociais, culturais, politicas, econômicas e ideológicas. Os filmes podem ter diversos sentidos, primeiramente devido ao “efeito de realidade” que desperta emoções e juízos estabelecidos através das subjetividades dos telespectadores, e em um segundo momento, pode ser visto através da objetividade, racionalidade e realismo. Dentro dessa ambivalência na apreensão do filme pelo público, o autor propõem maneiras de como fazer para transformar estas experiências sociais e culturais em experiência de ensino/aprendizagem.

O filme pode ser compreendido como resultado de uma série de recortes, escolhas adaptações dos autores e diretores, devido essas características todo filme documental não é uma apresentação “real” dos fatos, esta concepção dúbia de filme “real” e “ficcional” deve ser revista pelo educador que pretende trabalhar com cinema em sala de aula, ademais, todo filme ficcional está relacionado com o meio social em que foi criado. A escola deve usar os filmes dentro dessas premissas (Representação e encenação) e pra isso o cinema deve ser concebido como uma linguagem artística – que se encontra dependente de aspectos técnicos, de gênero, de narrativa e de ideologia.

A partir da análise destes elementos, não só o texto (roteiro) ou as legendas devem ser tomados como enunciados no filme, mas também “Mais importante é a maneira como se aborda e conta a história veiculada pelo filme e em que situações fílmicas os diálogos e textos verbais estão colocados na sequência de cenas” (NAPOLITANO, 2009, p. 13). 

O autor aborda a importância do exercício de análise dos filmes, citando que é mais fácil em primeiro momento criar um corpus de filmes com o mesmo tema, e comparar seus aspectos narratológicos e contextuais, levando em consideração que “Todo filme é uma representação encenada da realidade social e todo filme é produto de uma linguagem com regras técnicas e estéticas que podem variar conforme as opções dos realizadores” (Idem. p. 12).

De acordo com Napolitano, o Filme adquire uma linguagem diferenciada de todas as outras artes como música, pintura, teatro, etc. Mesmo que essas manifestações artísticas se aproximem e se dialoguem, o filme para ser analisado necessita de uma abordagem semiológica específica, e esse desafio da linguagem audiovisual se apresenta a quem venha analisar um filme com objetivos didáticos. O papel do professor é então instrumentalizar o “olhar” do aluno de modo que esse seja não só de encantamento como também de um olhar crítico. Para que isso aconteça é preciso que o professor compreenda o que o autor chama de “linguagem cinematográfica”, admitindo que o filme é construído por uma série de escolhas e influencias narrativas e técnicas de outros filmes, o que leva a uma reflexão a cerca dos diversos momentos do cinema em que as narrativas e as técnicas são distintas, a exemplo dos primeiros filmes produzidos onde havia somente uma câmera fixa e um cenário onde os atores encenavam de forma bem próxima ao teatro. Para analisar estas categorias, o autor incita também o professor a assistir obras clássicas de diferentes momentos históricos, e também de diferentes escolas, estilo, qualidade, gêneros e lugares.

Para a instrumentalização do olhar fílmico é necessário apreender as etapas produtivas do filme, os recursos técnicos e estéticos utilizados. Todo filme passa por um processo de pré-filmagem, que correspondem à elaboração do roteiro, escolha de autores e estúdios, etc.; filmagem; montagem (seleção das cenas, cortes, organização das tomadas); e lançamento, nessa ultima etapa o filme é lançado como um produto no mercado cultural. O filme como um produto artístico deve ser analisado nos seus mínimos detalhes, a exemplo do figurino usado pelos personagens, cenários e objetos, atores, luzes, sons, ângulos, cores, e outros aspectos próprios do cinema. Porém, nem só nestes aspectos do produto final do filme deve ser abordado, pois como afirma Napolitano: “A análise fílmica começa quando conciliamos o olhar que capta o resultado final de um filme e a reflexão sobre as escolhas, recursos e processos que estão por trás destes resultados” (NAPOLITANO, 2009, p. 18).

Para não recair na tradição errônea de usar o filme somente como ilustração ou exemplificação do conteúdo estudado, o autor cita duas formas instigantes de utilização do filme no ensino: 

“a) O filme pode ser um “texto” gerador de debates articulados a temas previamente selecionados pelo professor; [...] b) O filme pode ser visto como um documento em si. Neste caso, é analisado e discutido como produto cultural e estético que veicula valores, conceitos, atitudes e representações sobre a sociedade, a ciência, a política e a história” (Idem p.21). 

Para desenvolver essa análise o professor deve debater com os alunos e buscar suas opiniões, que tendem a convergir para os conteúdos estudados em sala de aula e os Temas Transversais. Essas questões fazem do planejamento um momento indispensável do uso de tais ferramentas, nisso inclui não só  assistir e analisar o filme com antecedência, como criar um roteiro de estudo, com informações prévias sobre o filme, coa exemplo de informações técnicas e temas a serem tratados.

é necessário também fazer uma sondagem dos alunos a fim de conhecer suas afinidades e conhecimentos prévios relacionados ao cinema e o seu conhecimento de mundo, contexto social e o nível de entendimento da linguagem cinematográfica. Essa sondagem pode ser feita através de um questionário básico onde os alunos devem responder quantos filmes assistiu ultimamente, com qual frequência, se assiste em cinema ou televisão, e quais suas preferências. O uso do cinema na sala de aula não implica “ensinar cinema” na escola, mas sim, utilizar uma das mais fascinantes manifestações culturais no sentido de possibilitar um momento reflexivo com o uso do filme, abordando temas transversais e conteúdos referentes ao filme e ao cotidiano social e escolar dos alunos.